Marta Quintiliano - defesa de tese

Pesquisadora quilombola é aprovada doutora em Antropologia Social

Atualizada em 29/04/25 18:14.

Marta Quintiliano defendeu sua tese em território quilombola

Texto: Juliana Ribeiro 

Revisão: João Lúcio

 

No dia 30 de março de 2025, a pesquisadora Marta Quintiliano defendeu a tese de doutorado intitulada "Redes de Afroafeto, políticas de inclusão e cura no ensino superior da UFG”, como requisito final para a obtenção do título de doutora em Antropologia Social. A defesa ocorreu no território quilombola Vó Rita, em Trindade (GO).

Marta Quintiliano é quilombola e feminista interseccional, criadora do conceito Afroafeto. A pesquisadora aponta que desde da graduação realiza pesquisas sobre o programa UFGInclui em relação “à política de permanência, saída e/ou continuidade no mestrado e doutorado destes sujeitos que vem de outra matriz de conhecimento e que na Universidade tem que se adaptar a forma eurocêntrica”.

A pesquisa foi orientada pelo professor Alexandre Ferraz Herbetta (UFG) e Jean Tiago Baptista (UFS). A Banca Examinadora foi composta pelas seguintes professoras: Andreia Rosalina (USP), Camila Mainardi (UFG), Camila Azevedo de Moraes Wichers (UFG) e Eunice Tapuia (UFG). 

 

Marta Quintiliano - defesa de tese
Marta Quintiliano em sua defesa de tese no Quilombo Vó Rita

 

Em relação à política de permanência no ensino superior, Marta explica que “há uma política de inclusão de corpos e não há uma política que acolha toda a subjetividade e os múltiplos saberes, sendo assim os estudantes adoecem, voltam para casa sem concluir o curso”. Sua pesquisa denota a importância da união e das redes chamadas pela doutora de “afro-indígenoafetivas” e “afroafetivas”, que são fundamentais para a sobrevivência e permanência dos estudantes no espaço acadêmico, “pois acaba sendo um espaço de respiro de troca acontecimentos entre indígenas e negros quilombolas”, conclui Marta.

A pesquisadora doutora em Antropologia Social espera que sua pesquisa auxilie na criação de uma “política afetiva e efetiva de permanência, saída e/ou continuidade na pós-graduação stricto sensu". Marta reforça a importância da Universidade reconhecer o saber ancestral na construção do país, e a importância de se construir uma “política de inclusão de corpos e saberes”. 

Durante o processo de construção de sua pesquisa, Marta conta que a sua comunidade teve uma imensa contribuição. Segundo ela foi “a partir do chão preto do território que desenvolvi conceitos que já existia na minha comunidade, por meio da prática, como por exemplo, a matriarca da família Vovó Tereza que durante a semana ia na casa dos filhos/as levando comida e reforçando a importância do almoço no território no domingo, onde todos se reuniam para compartilhar. Considero, como circuito do Afroafeto, que no território era possível essa prática da nossa forma, e não de maneira eurocêntrica, e sim afrocentrada”. 

Marta com sua comunidade
Marta com sua comunidade

 

A doutora teve a oportunidade de defender sua tese no território de sua comunidade quilombola, na casa de sua mãe, Dona Madalena. Para Marta, a escolha do local de sua defesa marca um grande passo no alcance das produções de pesquisa para além da academia e também possibilita “ir de encontro com outros saberes que também são científicos, e que há anos abastecem os conhecimentos da academia e não são reconhecidos como produtores de conhecimento. A minha tese foi feita a partir dos conhecimentos do território, nada mais justo de defender no chão dos conhecimentos ancestrais”, conclui Marta.  

O evento também foi transmitido ao vivo pelo canal da Magnífica Mundi, permitindo às pessoas que não puderam comparecer presencialmente que acompanhassem a defesa à distância. A gravação da defesa está disponível para acesso no seguinte link: Defesa de Tese - Marta Quintiliano.

 

Categorias: Notícias capa